Parte 2: Pertencimento, tudo o que você precisa saber.

18 de abril de 2022
O senso de pertencimento é o resultado contínuo da valorização que a empresa dá ao colaborador, e vice-versa.
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Criar conexões no ambiente de trabalho é essencial para a promoção do bem-estar e do desenvolvimento profissional. Quando falamos do sentimento de pertencimento, experimentamos satisfação com a vida, estabilidade psicológica e enxergamos propósito em nossas ações diárias.

Para falar sobre esse assunto, o Positivo em Foco conversou com Juliano Hoesel, sócio consultor da Ponte Consultoria em Desenvolvimento e Facilitador do Programa Germinar – Desenvolvimento de Facilitadores.

Confira a segunda parte dessa entrevista:

Positivo Em Foco (PEF): Fomentar o sentimento de pertencimento por meio de ações de engajamento, por exemplo, pode ser uma importante alternativa para um relacionamento positivo entre a empresa e o colaborador. De alguma maneira, essas atitudes podem contribuir para a retenção dos talentos, ou apenas o lado financeiro influencia?

 Juliano Hoesel (JH): O financeiro é básico, essencial, mas não é somente ele que afeta. Gosto de comparar o financeiro como o nosso sangue: nós precisamos dele pra viver, é básico. Mas, não podemos dizer que um ser humano existe somente para que o sangue corra em suas veias, não é? Isso é pequeno demais para algo tão significativo em nossas vidas como o trabalho. Diversos autores hoje falam sobre a motivação das pessoas com o trabalho, o que vincula elas a uma organização em detrimento de outra. Daniel Pink, que escreveu o livro “Motivação 3.0”, apresenta três pilares que mobilizam as pessoas nos tempos que vivemos: propósito, excelência e autonomia. O propósito está ligado a contribuirmos com algo que torne o mundo um lugar melhor, a excelência com sermos reconhecidos e desafiados a entregar o nosso melhor e a autonomia com o desejo de cada indivíduo poder ter suas próprias escolhas e espaço de criatividade. Uma organização que se dedica e permite isso aos colaboradores, com certeza terá retenção muito maior que outros.

 PEF: Muito se fala sobre o compromisso de diversidade e inclusão como elementos-chave para desencadear o pertencimento. Qual o verdadeiro peso dessas temáticas?

 JH: Excelente pergunta. Vejo por dois prismas: enquanto humanidade em constante evolução, chegamos a um momento em que não aceitamos mais a exclusão. Falamos muito de reparação histórica, de algo que nunca estivemos tão acordados. Empresas que levantam essa temática, conectam indivíduos que reconhecem, em sua alma, que precisam se desenvolver neste ponto também, de respeitar cada vez mais a individualidade do outro.

Por outro ponto de vista, posso contar sobre minha vivência e exemplificar. Sou homossexual e durante muito tempo da minha vida vivi “no armário”, sem me assumir, inclusive nos ambientes de trabalho. Sempre tive medo de que, se eu me assumisse, eu correria o risco de perder minha credibilidade e oportunidades. Isso sempre me deixou em uma posição de muita cautela, sem ousar muito. Se os ambientes que eu trabalhei tivessem essa pauta da inclusão, eu, com certeza, me sentiria muito mais à vontade para ser eu mesmo, reconhecendo que ali existe um espaço para todos, onde se valoriza todas as qualidades, talentos, cores, gêneros. Isso abre espaço para que a potência de cada um se revele, gerando criatividade, inovação e, claro, mais resultados.

PEF: O que um profissional deve avaliar e priorizar, com foco no seu bem-estar crescimento profissional e valores, na hora de buscar uma oportunidade profissional? Existem critérios que devem ser analisados e que podem evitar desencantos, ou, de certa maneira, tudo pode ser relativamente construído e adaptado?

 JH: Existem questões práticas que nos fazem decidir, que sempre digo que podem ser calculadas com o Excel: carga horária de trabalho, remuneração. Outras, a maior delas, são sutis. O principal ponto de atenção, nesse sentido, é reconhecer se a cultura da organização tem a ver com a sua identidade. O quanto o serviço que a empresa presta, o posicionamento que ela adota, os valores, o propósito, são vivos e conectados com os seus. Conversar com quem faz parte do quadro de colaboradores, fazer perguntas na entrevista, buscar notícias, acessar as redes sociais, tudo isso ajuda a reconhecer como, de fato, é aquele ambiente que fiquei interessado. Toda organização tem desafios, incoerências, problemas que precisam ser superados. Na hora da “paquera” pouco disso aparece e é importante investigar se você está realmente a fim de dar um “match” para construir essa nova relação.