Celular na sala de aula: desafio ou oportunidade?

7 de fevereiro de 2025
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O uso do celular nas escolas sempre foi um tema de debate. Agora, uma nova legislação federal define que o aparelho deve ser utilizado apenas para fins pedagógicos, acessibilidade ou em casos de necessidade de saúde. A medida levanta discussões sobre os impactos na aprendizagem e na convivência dos estudantes. 

Por um lado, há quem veja essa mudança como uma forma de reduzir distrações e melhorar a concentração em sala de aula. Afinal, com menos notificações e telas piscando, os alunos podem se conectar mais ao conteúdo e às interações presenciais. 

Por outro, a tecnologia também tem seu papel no ensino. Celulares e tablets podem ser aliados poderosos quando usados para pesquisas, atividades interativas e até mesmo para desenvolver a autonomia dos estudantes no aprendizado. 

Mais do que proibir ou liberar, o grande desafio é encontrar o equilíbrio. Como tornar o celular um recurso útil, sem que ele atrapalhe a dinâmica da aula? Como envolver pais, alunos e professores nessa discussão? Perguntamos a Celso Hartmann, diretor-executivo dos colégios do Grupo Positivo,  qual é a relevância do tema para as nossas práticas em sala de aula. Confira.

 “No Colégio Positivo, o uso de celulares é regulado há 15 anos, sempre com o objetivo de equilibrar a tecnologia e a aprendizagem. Em sala de aula, para estudantes dos anos finais e médio, os dispositivos podem ser utilizados para fins pedagógicos, quando solicitados e acompanhados pelos professores. Caso um estudante utilize o celular de forma inadequada, ele será orientado e, se houver reincidência, o aparelho ficará sob a guarda da escola até que um responsável possa retirá-lo. 

Acreditamos que a escola tem um papel fundamental na formação dos estudantes, ajudando-os a desenvolver um uso saudável e produtivo das novas tecnologias. Queremos mostrar que os dispositivos eletrônicos podem ser grandes aliados do aprendizado, permitindo, por exemplo, a personalização do ensino por meio de ferramentas de inteligência artificial, que ajudam a identificar dificuldades e sugerir caminhos para um aprendizado mais eficiente e prazeroso. 

Por outro lado, é essencial que os estudantes também compreendam os riscos do uso excessivo e recreativo das telas. O tempo exagerado em redes sociais, jogos e outros aplicativos pode impactar a concentração, a criatividade e até o bem-estar emocional. Nosso compromisso é ajudá-los a encontrar esse equilíbrio, para que a tecnologia seja uma aliada e não um obstáculo ao desenvolvimento.”  

 Celso Hartmann, diretor-executivo dos colégios do Grupo Positivo

Impacto na saúde dos jovens 

O uso excessivo de telas tem sido apontado como um fator de risco para a saúde física e mental dos jovens. A médica do trabalho e coordenadora da área de Medicina do Trabalho no Grupo Positivo, dra. Liliana Araujo Fernandes, pontua que nessa faixa etária os jovens estão em pleno desenvolvimento físico e mental e por isso os impactos do uso excessivo de telas podem ser maiores que para adultos. Pode haver o comprometimento da maturação de áreas importantes do cérebro responsáveis pela memória, atenção, regulação das emoções e da impulsividade. Em adição a isso, e a exposição excessiva noturna à luz azul, pode alterar o ciclo do sono vigília, com consequências que afetam a aprendizagem. Dor lombar, cervical, nas mãos e braços também são queixas cada vez mais comuns nos consultórios pediátricos, e há maior propensão a alterações posturais mais graves já que nessa fase, músculos e articulações não estão completamente desenvolvidos ainda. Além de todos esses fatores, os impactos na socialização são evidentes e essa fase é crucial para o desenvolvimento de habilidades como comunicação, resolução de conflitos e s prática da empatia. 

Entretanto, Fernandes pondera que, apesar de serem muitos os impactos na saúde, o problema está no excesso do uso e o desequilíbrio entre os tempos dedicados a cada um dos pilares importantes para o corpo e mente. Ela acredita que esse desafio é coletivo, e deve ser compartilhado entre família, escola e sociedade, cada um com seu papel, sempre estimulando o uso consciente da tecnologia e ofertando alternativas saudáveis para o desenvolvimento dos jovens em seus ambientes.   

Para a dra. Liliana, o equilíbrio entre o uso da tecnologia e hábitos saudáveis é fundamental para o bem-estar dos estudantes, o segredo está em como pais e escolas atuam juntos para garantir um uso consciente dos dispositivos. Estabelecer regras e limites para o uso do celular não deve ser apenas uma responsabilidade da escola, mas um esforço conjunto em casa. O diálogo aberto e constante pode ajudar os jovens a desenvolverem uma relação mais equilibrada com a tecnologia, fortalecendo sua autonomia e senso de responsabilidade.